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Rua Treze de Maio – O Coração do Bixiga

Um dos endereços mais famosos da cidade, a Rua Treze de Maio é a representação de toda a pluralidade existente no bairro mais tradicional da cidade. Conhecida como Rua das Cantinas, ou Rua do Rock, percorrer toda a Treze de Maio é descobrir o que tem no B de todo o Bixiga.

Sexta-feira. Assim que a missa da noite acaba na igreja de Nossa Senhora Achiropita, exatamente do outro lado da rua, o samba começa. Os botecos que abastecem a cervejada são, em sua maioria, de nordestinos. Há também a padaria do Português e o churrasco do argentino na esquina. O público? O mais diverso possível. Jovens senhores de 80 e poucos anos, integrantes da Vai-Vai, moradores de cortiço e do morro dos ingleses, universitários e quem mais quiser chegar.

(Foto: Thais Taverna)

Na mesma Treze de Maio, na esquina paralela ao samba, senhor Walter Taverna observa tudo do banco de sua cantina após fazer o show de panelas para seus clientes. O maior personagem vivo do Bixiga nasceu nesta rua e tornou-se o maior defensor do bairro. “O Bixiga é um bairro de todos, quem gostar do bairro é bem-vindo”, diz Taverna.

Este logradouro nasceu com o nome de Rua Celeste. Em 1890 um decreto federal estabeleceu o dia 13 de maio como feriado nacional. A grande comunidade negra do Bixiga comemorava esta data numa capela que existia no encontro das ruas Una e Rocha. Era a Festa de Santa Cruz. Mas no começo do século a capela foi demolida e a festa passou a ocorrer na Rua Celeste, que em 1916 mudou seu nome para Treze de Maio. Em 1930 Getúlio Vargas revogou este feriado, mas rua que marcava esta data seguia seu destino.

Desde 1926 a festa de Nossa Senhora Achiropita, que acontece na própria Treze de Maio, é um marco para a cidade. Além de ser uma festa religiosa é também uma celebração da comunidade italiana do Bixiga. Adoniran Barbosa, que adotou o bairro, casou-se nesta igreja no dia 08 de dezembro de 1936 com Olga Krum sob a benção do Padre Pedro Martinotti. E um dos maiores orgulhos do Bixiga também vem desta igreja, que é a Pastoral Afro da Achiropita, criada no final da década de 80 pelo saudoso Padre Toninho, primeiro padre negro em 6 décadas de missas.

A escadaria do Bixiga é um dos maiores símbolos da arquitetura do bairro, onde hoje é palco de diversas manifestações culturais. Foi construída em 1929 pelo prefeito Pires do Rio. A obra foi realizada para fazer a ligação da Rua Treze de Maio com o Morro dos Ingleses.

A Rua Treze de Maio também tem o quarteirão com a maior concentração de cantinas da cidade. E pode apostar, é a melhor culinária italiana que se pode encontrar em São Paulo, com receitas passadas das nonnas para seus filhos, vindas diretamente da penínsola. As padarias centenárias do bairro continuam fazendo o pão à mesma maneira de quando chegaram aqui.

Após a inauguração do TBC, em 1948, o Bixiga se tornou reduto de artistas e era conhecido como Broadway Paulistana. Vários teatros já abriram suas cortinas na Treze de Maio e até hoje a rua é palco de expressão das mais diversas manifestações do bairro.

E até mesmo o maior comunicador do Brasil tem um pedaço de sua história registrado aqui. Silvio Santos registra a primeira empresa em seu nome, o Baú da Felicidade, na Rua Treze de Maio, 714, local onde ele também morava.

A Treze de Maio também tem sua ligação com a cena rock and roll dos anos 80 e 90, tão marcante para aquela geração de jovens brasileiros. Em seus primeiros metros é possível encontrar bares como Café Piu-Piu, The Wall, Aurora e Alkatraz, que atingiram alto nível de sucesso e tradição entre os amantes do gênero.

Uma das figuras mais marcantes do rock brasileiro dos anos 80 inclusive nasceu e cresceu na própria Treze de Maio, no número 720, ao lado da Escadaria. Membro da Família Scarlato, Marcos Valadão, mais conhecido pela alcunha de Nasi, é o vocalista da banda Ira!, uma das mais bem sucedidas do Brasil. “A memória que eu tenho familiar no Bixiga, na Treze de Maio, é um dos pontos mais felizes e nostálgicos da minha memória”, diz Nasi.

Também temos um um museu a céu aberto, onde você tem a vantagem de poder comprar um pedaço da história e levar para casa ou simplesmente fazer um passeio pelo passado. Desde 1984 uma das praças mais charmosas de São Paulo, a Dom Orione, situada na Treze de Maio, fica lotada de barracas onde é possível encontrar de tudo: móveis de época, discos de vinil, roupas, lustres, etc. É a Feira de Antiguidades do Bixiga.

O bairro é um dos mais densamente povoados de São Paulo. Quando os italianos aqui chegaram, compraram terras e foram construindo suas casas. Para fazer uma renda extra, eles moravam numa parte da casa e alugavam os demais cômodos para outras famílias, os famosos cortiços, que até hoje existem. Por toda a Treze de Maio podemos observar esses casarões antigos servem de moradia para diversas pessoas.

Tombado pelo patrimônio histórico, graças a isso o bairro não teve sua história engolida pela especulação imobiliária, que poderia ter transformado tudo isso em edifícios. Os moradores cultivam até hoje suas origens e festejos, mas também estão sempre abertos ao novo. A rua Treze de Maio funciona como coração, bombeando para todo o Bixiga a necessidade de luta pela sobrevivência cultural.