Casa da Dona Yayá

Casa da Dona YayáLocal: Rua Major Diogo, 353
Construído em: Século XIX
Tombamento: 02/04/1998 (mais)
Telefone: 3106-3562
Horários: 09:00 às 17:00
Site: www.usp.br/cpc

Casa da Dona YayáA Casa da Dona Yayá é um antigo casarão do Bixiga, que serviu de residência e clausura para Sebastiana de Melo Freire, conhecida como dona Yayá, durante o período em que ela tornou-se vítima de graves distúrbios mentais. Construído no século XIX, o imóvel é considerado um dos últimos sobreviventes do antigo cinturão de chácaras que circundava a região central de São Paulo.

Uma vida marcada por tragédias.

Após a morte de seus pais e de todos os irmãos, Yayá tornou-se única herdeira uma grande fortuna. Pouco tempo depois foi considerada louca e acabou sendo impedida de administrar seu capital. Ficou reclusa neste casarão do Bixiga por 36 anos. Sem filhos ou parentes próximos, após sua morte seus bens foram transferidos para o Estado.

Localizada na Rua Major Diogo 353, atualmente a “Casa da Dona Yayá” funciona como sede do Centro de Preservação Cultural da USP, organização governamental ligada à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade de São Paulo.

História

Dona Yayá | Casa da Dona YayáSebastiana de Melo Freire nasceu em Mogi das Cruzes, no ano de 1887. Seu pai, o milionário fazendeiro Manuel de Almeida Melo Freire, foi eleito por três vezes deputado para a Assembléia Provincial de São Paulo e senador da Primeira República. O dinheiro da família não foi suficiente para que se evitassem inúmeras tragédias.

Yayá perdeu uma irmã com apenas três anos, que morreu asfixiada por uma porca que se soltou do berço. Pouco tempo depois sua outra irmã morre de tétano aos treze anos. Em 1899 ela tem mais duas grandes perdas, morre sua mãe e, apenas dois dias depois, morre seu pai.

Aos 13 anos de idade seu único parente vivo era seu irmão. Mas as tragédias da família pareciam não ter fim… Numa viagem com destino a Buenos Aires, seu irmão se suicida atirando-se ao mar. E com apenas 18 anos, Yayá torna-se a única sobrevivente da família Melo Freire e herda uma grande fortuna.

Durante o pouco tempo em que pode gerenciar seus bens e ser dona de sua vida, Yayá mostrou-se uma mulher à frente do seu tempo. Não quis se casar, pois considerava que todos os pretendentes estavam apenas interessados em seu dinheiro. Além disso, essa foi uma forma que encontrou para afrontar a sociedade, que criava mulheres exclusivamente para o matrimônio.

Yayá era uma jovem independente e interessada em artes. Em sua residência, um palacete da Rua Sete de Abril, ela promovia saraus e recebia muitos artistas, mesmo numa época de grande repressão e turbulências políticas.

Em 1918 ela achou que ia morrer. Aos 31 anos Dona Yayá começou a redigir seu testamento e a distribuir jóias aos seus empregados. Essas ações foram vistas como seus primeiros sinais de loucura. No ano seguinte ela tentou o suicídio. Dizia que estava sendo perseguida, que queriam violentá-la e matá-la. Acabou sendo internada em um sanatório e foi interditada.

Seus curadores queriam tirá-la do sanatório e mantê-la em casa, mas sua residência da Rua Sete de Abril foi considerada inadequada. Adquiriram então o casarão do Bixiga para isolá-la da sociedade.

Dona Yayá foi atendida pelos maiores especialistas em psiquiatria da época, como os renomados Juliano Moreira e Franco da Rocha, mas sua doença só progredia. Diagnosticada com psicose esquizofrênica, em suas crises ela batia-se contra a parede, rasgava suas roupas, machucava seu corpo com qualquer objeto que encontrava, falava as mais absurdas palavras para uma dama da época e, por muitas vezes, amamentava e embalava um filho que acreditava ter tido um dia.

Ela ficou isolada no casarão do Bixiga por 36 anos, que foi todo adaptado para o seu tratamento. Foi necessário, por exemplo, instalar janelas inquebráveis e que só abriam do lado de fora. Também foi construído um solário para que ela pudesse ficar ao ar livre.

Várias disputas judiciais ocorreram entre parentes pelos direitos sobre sua fortuna. Muitos boatos, mistérios e até acusações de cárcere privado foram noticiados pela imprensa da época. Esses parentes, porém, não tiveram sorte, pois Dona Yayá viveu mais que todos eles.

Sebastiana de Melo Freire faleceu em 1961 aos 74 anos. Como não tinha herdeiros, sua fortuna foi considerada vacante e seus bens passaram para o Governo. Seu patrimônio era composto pelo Casarão do Bixiga, 41 casas na cidade de São Paulo, um edifício na Rua Mello Alves, outro na Rua Augusta, boa parte do edifício Veneza, uma chácara em Mogi das Cruzes, além de inúmeros outros imóveis, terrenos, dinheiro em contas bancárias e títulos.

Seus bens foram definitivamente transferidos para a USP em 1968. A “Casa da Dona Yayá” hoje é patrimônio histórico e funciona como sede do Centro de Preservação Cultural. Aberto à visitação pública, é uma das atrações turísticas do bairro.